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PARA AJUDAR A DIGERIR A VIDA.

quarta-feira, maio 31, 2006

Vencer Ogres

Batalha campal. Os ogres personificações dos nossos receios e, alguns ogres que são apenas ogres que temos de aturar, descem os montes em direcção ao núcleo da batalha. Descem, e trememos. Pensamos se seremos capazes de os enfrentar e destruir. O som da batalha aumenta. As armas arrastam-se, o som de metal a bater no chão furiosamente. Os passos pesados abalam o chão e apertam o nosso estômago...
Peço desculpa, caros ogres mas vou de fim-de-semana mais cedo, continuamos na segunda.

quarta-feira, maio 24, 2006

Lost in Socialization



Porque vivemos em sociedade e temos de nos esforçar. Porque mesmo que nos apeteça grunhir temos de ir para jantares de aniversário com um sorriso na cara. Porque mesmo que nos apeteça ser uma ave rara, de certeza que podemos cair no cromo repetido. Porque viver em sociedade cansa mas no final é recompensador. Se tudo correr mal refugiamo-nos no Karaoke e entupimo-nos com Sushi.

quarta-feira, maio 10, 2006

Porque me mereces

2h45 da manhã, o hábito leva-me a ligar a televisão para adormecer. Um filme qualquer, num canal qualquer com um qualquer actor que numa situação cliché tenta engatar uma rapariga enxuta num bar como todos os outros. A conversa de engate, essa sim totalmente inovadora. Reparando que a incauta moça tinha acabado de sair de um jantar de empresa, com um ar de desprezo pleno começa: “Típico. Miúda nova, vinda de uma terrinha qualquer com um nome angélico, primeira a tirar o curso na família de agricultores, menina dos olhos do pai, orgulho dos chás das amigas da mãe, embeiçada pelo patrão, novo, cheio de dinheiro, apesar dos avisos de todas as colegas da sua má fama de conquistador barato, tenta ser a salvadora daquela alma perdida pensando que o pode resgatar de uma vida devassa e vazia. "Estou a dar-lhe a oportunidade de quebrar o padrão e passar a noite comigo. O que me diz?” CORTA
Mulher mais velha ao balcão do mesmo bar algumas horas mais tarde. “À espera de alguém?” “Sim, do meu noivo.” “Parabéns.” “Obrigado” “E ele trata-a bem?” “Não que tenha alguma coisa a ver com isso, mas sim muito bem.” “Parabéns... Afinal, conseguiu disfarçar a idade que tem e arranjar um homem mais novo, que se chega atrasado, bem, de certeza que ambos concordamos que deve estar a fazer algo mais interessante do que estar consigo. Na verdade, apesar de achar que o caçou ele ainda vai perceber a tempo que é apenas uma velha passa desejosa de aproveitar os últimos anos de fertilidade. Parabéns pelos escassos poucos anos que lhe restam de felicidade aparente, até que ele acorde ao seu lado e a veja como é, uma oportunista procriadora.” Chegou feliz e noiva, saiu detonada com a única companhia possível; o visionário que lhe preveu um desfecho negro para se auto presentear com uma noite inconsequente que ambos “mereciam”.

segunda-feira, maio 08, 2006

Dou início às hostilidades

Está oficialmente declarada a guerra aberta, a batalha campal para encontrar “os” sapatos de verão.
Neste momento, juntam-se as tropas para tomar de assalto o Chiado e varrer todas as sapatarias.
Tenham medo... muito medo.

sexta-feira, maio 05, 2006

Humor Indigesto

Há uma essência comum a todos empregados de mesa por esse mundo fora. O humor de mesa. Não é tão subtil como o famoso inglês, também não chega a ser a piada fácil. É quase um calão profissional preso entre o pimba e o eloquente (também depende dos restaurantes e da sua cotação no Guia Michelin) . Uma espécie de ping-pong gastronómico. Cada pedido que fazemos ao empregado é retribuído com “a piada”. Não é possível reproduzi-la. Ela só existe no ambiente restaurante, tem um efeito efémero, acutilante e irritante qb. Assim que a ouvimos fazemos um sorriso 100% mostarda Dijon (espasmo físico provocado por piada seca) e a dita transforma-se em fumo e desaparece da nossa memória. É assustador, por muito que me esforce para me lembrar da piada, simplesmente não consigo. É de facto uma arte apuradíssima semelhante ao lançamento de pequenas bombas atómicas. Nunca se percebe muito bem de onde é que veio, mas no íntimo tememos que venha mais alguma.

quarta-feira, maio 03, 2006

Metades

Sempre ouvi falar de cara-metade. Alguém que nos completa. Que tem o que não temos, que gosta do que gostamos e ainda nos ensina a gostar do impensável. Oferece o casaco quando temos frio, oferece flores quando faz asneira. Pergunta como foi o nosso dia para depois poder falar do seu sem parecer auto-centrado.
Essa metade acha-nos sempre lindas e bem vestidas, o efeito inebriante do amor tolda a visão como o mais alcoólico dos tintos. Essa metade aprende atentamente a agradar-nos, a fazer-nos felizes e atentando à testosterona, a ser sensível.
Como metade? Isso implicaria que somos apenas metade. Não sou metade. Sou um. Gosto tanto de certas coisas que passam de gostos para hábitos. Hábitos impensáveis que despoletam novos gostos. Não tenho frio. Ando sempre com um casaco a mais. E flores prefiro vê-las no campo do que presas numa jarra. Gosto do que visto. Visto porque gosto. Sinto-me bonita porque me sinto completa, una. Não é uma metade que quero, é um ser uno e independente, que não preencha as minhas lacunas, que não encaixe nas minhas arestas. Só eu limo as minhas falhas. Só eu suplanto as minhas necessidades. Não é ser um de duas metades. É ser dois de duas vidas, que a dois vivem uma serenamente feliz.

Armadilhas de Laço

Um jantar de aniversário. “Então e novidades?” – ou seja, “namorado novo? Sim? Quem é? O que faz? Onde conheceste?” (seguem-se várias perguntas para avaliar se o espécimen promete e se por ventura é melhor partido do que o dela. Caso seja, acabamos de arranjar uma “Fã”). “E o trabalho como vai? Já foste aumentada? Tens trabalhado muito? Muitas noitadas?” (a resposta sorridente surpreende. Estranho, ver alguém feliz no emprego...deve ter um caso por lá.) As perguntas são intercaladas com TACs ao corpo para avaliar gorduras localizadas, erros de guarda-roupa, cabelos brancos e primeiros pés de galinha. “Ah. Pois. Eu ainda estou no mesmo sítio, mas estou a pensar mudar. Sim. Ainda ando com o Filipe, mas estamos a pensar dar um tempo.” (tudo igual ao ano passado portanto, em geral o “estou a pensar em” significa que está infeliz mas não faz a mínima ideia como mudar a situação e também não tem força anímica para o fazer. Basicamente, falhou na prova do aniversário).
Não falo de Amigos. Esses vemos durante todo o ano e, dificilmente se passa alguma coisa que não saibam no máximo com o atraso de uma semana. Curioso é que pessoas que não nos são assim tão próximas tentam perceber como é a nossa vida na esperança que a delas seja melhor e assim a valorizem mais.
Mesmo que assim seja, os aniversários só chegam uma vez por ano. Terão de sobreviver os restantes 11 meses na expectativa do próximo, criando novidades, montando o show e, à espera que alguém lhes aprove a felicidade.