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PARA AJUDAR A DIGERIR A VIDA.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Fazer filmes

O comportamento humano aparentemente complexo rege-se pelo mais básico dos sentimentos, a carência. Por muitos adereços novos com que enfeitamos a nossa vida, rapidamente passam de novos para usados. Perdem o brilho, a novidade e, deixam de nos provocar entusiasmo para se tornarem dados adquiridos ou lugares comuns.
A mente humana, cheia de truques e trejeitos inventa filmes, romances, vilões, tramas e dramas para que a realidade ganhe tempero.
Há sempre alguém no emprego que nos faz ir mais produzidas, há sempre alguém que é odioso e mesquinho e há sempre uma série de gente que alterna entre odioso / adorável e indiferente. Basicamente, é tudo da nossa cabeça. Depende tudo da nossa disposição e em última análise do nosso nível de carência. É giro fazer filmes mas temos uma falsa sensação de controlo que pode desabar a qualquer momento. Tendo isso em consideração podemos deambular acordados dentro da nossa cabeça, apenas temos de ter cuidado para não tornar figurantes em personagens principais.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Série II

Sinto-me mal.
Porque sinto, e não queria sentir. Não queria ver as coisas como vejo, nem olhar para as pessoas que me desiludem já com olhos viciados.
Quando a máscara cai e vemos a personagem e o seu papel na trama, como voltar atrás? Como voltar à tábua rasa? Ao olhar despreocupado... ao cenário antigo. Vou considerar uma nova série, uma nova época em que as personagens podem evoluir, podem trocar de oponentes para adjuvantes bi-polares. Posso mudar o script e definir a banda sonora. Afinal é tudo uma questão de perspectiva e expectativas. Se não escrevermos a série à espera que seja um êxito estrondoso mas apenas para passar num canal qualquer num horário pouco nobre, é provável que se torne um objecto de culto... ou que apareça em DVD na Feira da Ladra ao lado do “Duarte & Companhia”.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Mr Déjà Vu

Esqueci-me. Peguei na mala e fui. Segui o mesmo caminho, dancei os mesmos gestos, usei as mesmas palavras e esqueci-me. Telefonei às mesmas pessoas, tive as mesmas conversas, vi os mesmos filmes, calcei os mesmos sapatos, pisei os mesmos passos e esqueci-me. Segui o mesmo caminho, dancei os mesmos gestos, usei as mesmas palavras e apareceu uma palavra nova... assustei-me. De onde terá vindo? Não estou habituada a palavras novas que surgem sem serem convidadas. Vou ter de a usar até à exaustão, para a tornar familiar, para lhe conhecer as manhas, para a ver banal. Não gosto de palavras indisciplinadas. Lembram-me. Vou calçar os mesmos sapatos, seguir os mesmos caminhos, dançando os mesmos gestos enquanto me esqueço.