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segunda-feira, junho 12, 2006

Não comerás... POUCO

Passou. Passou uma semana no mínimo estranha.
Difícil, estar rodeada de vícios e não os poder abraçar. Irritante, quase saborear pequenos pecados e não os poder cometer. Via encanto em tudo; nos enchidos, nas comidas plastificadas, enlatadas e engorduradas. As sandes de torresmos tinham poesia, as batatas fritas ondulavam no óleo como sereias que me enfeitiçavam com o seu canto, e o bolo de chocolate dilacerava o meu coração dizendo que eu já não gostava dele.
Voltei a pecar na quinta, num jantar especial que ainda se tornou mais especial pelo regresso do tempero às minhas exiladas papilas gustativas. A primeira garfada foi acompanhada de fogo de artificio variado e temperada por um bebericar de tinto do Chile. Esperava pontualmente alguns segundos para ver se o estômago apreciava a comida tanto quanto eu e continuava em êxtase culinário. Lembrei-me da Sábia escritora a propósito das coincidências quando reparei que o restaurante, muito a propósito, chamava-se “Paladar”. Espero que um dia não tenha igual experiência de libertação de jejum no “Afrodite”.
Ninguém reparou no meu momento apoteótico, no máximo desconfiaram que eu não tinha lanchado (e almoçado), mas a minha felicidade ao notar que a comida tinha sal deixou-os ligeiramente confusos. Sorri sempre, disfarça qualquer coisa inclusive os nossos olhos a rebolarem ao melhor estilo Shinnig perante um prato cheio de comida.