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quarta-feira, maio 03, 2006

Metades

Sempre ouvi falar de cara-metade. Alguém que nos completa. Que tem o que não temos, que gosta do que gostamos e ainda nos ensina a gostar do impensável. Oferece o casaco quando temos frio, oferece flores quando faz asneira. Pergunta como foi o nosso dia para depois poder falar do seu sem parecer auto-centrado.
Essa metade acha-nos sempre lindas e bem vestidas, o efeito inebriante do amor tolda a visão como o mais alcoólico dos tintos. Essa metade aprende atentamente a agradar-nos, a fazer-nos felizes e atentando à testosterona, a ser sensível.
Como metade? Isso implicaria que somos apenas metade. Não sou metade. Sou um. Gosto tanto de certas coisas que passam de gostos para hábitos. Hábitos impensáveis que despoletam novos gostos. Não tenho frio. Ando sempre com um casaco a mais. E flores prefiro vê-las no campo do que presas numa jarra. Gosto do que visto. Visto porque gosto. Sinto-me bonita porque me sinto completa, una. Não é uma metade que quero, é um ser uno e independente, que não preencha as minhas lacunas, que não encaixe nas minhas arestas. Só eu limo as minhas falhas. Só eu suplanto as minhas necessidades. Não é ser um de duas metades. É ser dois de duas vidas, que a dois vivem uma serenamente feliz.

1 Comments:

Blogger  said...

"Orgulho de amiga melancia: quando além deste post reforçar o que já tinha interiorizado sobre ti, me surpreendes sorridentemente sem me surpreender com isso." Não fosse a referência à testosterona, preenchia já o formulário para tua eventual cara metade. Sou um ser uno e independente, que não preenche as tuas lacunas, que não encaixa nas tuas arestas. Que te ama, tanto quanto o amor sem testosterona é possível. Que é muitas vezes mais ainda. Que te dá valor. Que te achará sempre bonita, mesmo quando não o sintas. Gosto tanto de ti que passou de gosto para hábito. Delicioso.

11:42 da tarde  

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